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Entre 1.112 iniciativas inscritas de todo o Brasil, o manejo sustentável de pirarucu feito pelo povo Paumari, do Amazonas, foi uma das vinte premiadas na 12ª edição do Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social. A premiação aconteceu no dia 21 de junho, em Brasília (DF), e celebrou realizações inovadoras nas áreas de alimentação, educação, energia, renda, habitação, meio ambiente, água e saúde. Os vencedores serão contemplados com recursos financeiros para investimento em projetos de reaplicação das tecnologias sociais.
O manejo pesqueiro do povo Paumari é uma tecnologia social certificada pela Fundação Banco do Brasil desde 2015, mas este foi o primeiro ano em que concorreu ao prêmio. A iniciativa disputou na categoria “Tecnologias Sociais Certificadas em Edições Anteriores” e o processo de seleção foi realizado em duas etapas.
Na primeira, o projeto foi apresentado para uma banca de avaliadores. Na segunda, uma votação popular foi aberta entre as iniciativas finalistas de cada categoria. “Este prêmio é o reconhecimento do trabalho realizado pelo povo Paumari nos últimos 15 anos. Depois de muito esforço e desafios, desenvolveram um sistema eficiente e de referência”, conta Felipe Rossoni, indigenista da Operação Amazônia Nativa (OPAN).
“Pelo manejo nos unimos, cuidamos do nosso território”
A premiação contou com representantes das iniciativas finalistas de todo o Brasil, além de membros da Fundação Banco do Brasil, especialistas e artistas convidados. Representando a iniciativa do povo Paumari, Barara Abimael, manejador e um dos coordenadores do manejo do povo Paumari, esteve presente no evento. O indigenista Felipe Rossoni, representando a OPAN, também participou da cerimônia.
Antes do anúncio dos vencedores de cada categoria, Barara e Felipe apresentaram a iniciativa para os participantes do evento, que lotaram a plateia. Falando em pamoari athini (idioma do povo Paumari), Barara destacou que o manejo é muito mais do que uma atividade comercial e traz benefícios para o meio ambiente e organização social do povo.
“Pelo manejo nos unimos, cuidamos do nosso território, não deixamos mais barcos de pesca entrar e protegemos o pirarucu. Estamos unidos, com a nossa associação, com homens e mulheres trabalhando juntos e igual”, disse ele.
Única tecnologia indígena premiada
“Os povos indígenas da Amazônia convivem e fazem parte da floresta há pelo menos oito mil anos e eles têm muitas tecnologias a nos ensinar”, destacou Felipe Rossoni. Entre as 20 iniciativas premiadas, o Manejo Pesqueiro do Povo Paumari foi a única de autoria indígena a ser contemplada na premiação.
Mais uma vez Barara e Felipe subiram ao palco do evento, desta vez para receber o troféu das mãos do presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais. “Eu estou aqui, mas quem está aqui é todo o povo Paumari do Tapauá”, disse Barara Abimael, sob fortes aplausos da plateia. No idioma pamoari athini, saudou o trabalho incansável de todo o povo Paumari do Tapauá e expressou sua gratidão pelo reconhecimento.
O manejo sustentável de pirarucu do povo Paumari é apoiado pela OPAN desde a sua implementação, através de acompanhamento técnico e projetos direcionados para a estruturação da atividade. “A OPAN é uma instituição de 55 anos que é ferramenta de apoio para povos indígenas da Amazônia e do Brasil central. Esse é um trabalho de muitas mãos”, finalizou Felipe.
Experiência será compartilhada com ribeirinhos e povos do Vale do Javari
O manejo sustentável de pirarucu transformou a realidade das comunidades do povo Paumari, recuperando o estoque de pirarucu e de outras espécies, viabilizando a retomada da pesca comercial de forma manejada para geração de renda e fortalecendo a participação de jovens e mulheres. Com o êxito da iniciativa, comunidades ribeirinhas do entorno, mulheres manejadoras do Médio Juruá e povos indígenas do Vale do Javari começaram a buscar com o povo Paumari o apoio para implementação e aprimoramento de seus sistemas de manejo.
A iniciativa do povo Paumari é fortalecida por meio do projeto Raízes do Purus, realizado pela OPAN e patrocinado pela Petrobras e Governo Federal. O projeto apoia o manejo do povo Paumari desde 2013, ano da realização da primeira pesca manejada, fornecendo assessoria técnica e insumos como combustível, barco, flutuantes, lacres e equipamentos de proteção individual, além de viabilizar a realização de reuniões e a participação de representantes em fóruns de discussão relacionados à atividade.
Com o apoio financeiro recebido através do prêmio, a experiência bem sucedida do povo Paumari será expandida para a comunidade ribeirinha Nazaré, no entorno do território Paumari, e entre povos indígenas do Vale do Javari. Além disso, fortalecerá a participação feminina com intercâmbios entre mulheres indígenas dos povos Paumari, Deni e mulheres ribeirinhas do Médio Juruá. As atividades estão previstas para começar em 2025.