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Comemora-se neste domingo (20), o Dia Internacional da Felicidade, que foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em junho de 2012. Em tempos de pandemia e guerras, falar de felicidade é um momento de não se curvar em um cotidiano doloroso e uma oportunidade para pensarmos no nosso bem-estar individual e coletivo.
A felicidade média do brasileiro, numa escala de um a dez, chegou a 6,1 — 0,4 ponto menor do que a registrada no ano anterior. O dado é obtido a partir de uma avaliação dos entrevistados da satisfação com a própria vida realizada pela FGV Social, centro de políticas sociais da Fundação Getúlio Vargas. Apesar de toda a riqueza produzida, dos avanços tecnológicos e da ciência, é comum as pessoas estarem presas à luta diária pela sobrevivência e falar de felicidade pode soar estranho ou mesmo utópico.
Para o mestre e professor de psicologia da Estácio, Luciano Barbosa de Queiróz, falar de felicidade, é falar de existência. “Este tema nos implica sobre o nosso bem-estar, e reservar para nós mesmos nossa parcela – inalienável – de responsabilidade por uma vida que vale a pena ser vivida”, define o especialista.
A felicidade, segundo Luciano, não é simplesmente um sentimento de alegria ou de bem-estar efêmero. “Ela pode ser definida pela satisfação que vem de um equilíbrio entre movimentos de mudança pessoal e estratégias de aceitação. Isso significa que esse bem-estar ora será o resultado de mudanças importantes que precisamos fazer, ora virá da aceitação daquilo de que não temos controle. É claro que a felicidade também é influenciada por fatores históricos e culturais, mas quero enfatizar nossa responsabilidade e nossa possibilidade pessoal por ela”, explica.
O psicólogo deixa claro que existe uma diferença entre felicidade e ausência de dor. “A felicidade não significa ausência de dor; ao contrário: implica necessariamente entrar em contato com essa dor para que reconheçamos sua real dimensão e possamos dar um destino a ela. Significa vivenciarmos, acolhermos os nossos sentimentos e ouvi-los porque certamente eles são avisos de que algo está acontecendo”, argumenta.
“Significa, também, cultivarmos relações interpessoais, fortalecermos conexões e ampliarmos nossa rede de apoio. A felicidade é resultado de um crescimento e todo crescimento implica renúncias, que podem ser inevitáveis, mas que precisam sempre ser tomadas de forma consciente”, completa o profissional.
Luciano orienta que para ter felicidade não existem receitas fáceis, nem textos com palavras de efeito. “A felicidade é um jogar-se, é aventurar-se no seu autoconhecimento, muitas vezes, com a ajuda de um profissional qualificado”, revela.
“Falar de felicidade no atual contexto é apenas aparentemente contraditório. Penso que as dores da pandemia e das guerras possam ser momentos de mudança, de movimento, que nos possibilitem um encontro generoso, verdadeiro, com a nossa condição de seres humanos, com a finitude da vida, com os sentimentos silenciados, com as relações rompidas, com as despedidas”, salienta.
Disso, segundo o professor da Estácio, pode resultar uma sabedoria: “um equilíbrio, uma satisfação genuína e uma autocompaixão com quem somos, com as nossas conquistas e nossos projetos futuros. Diferentemente do que é propagado, a felicidade passa por um encontro com o nosso desconhecido e isso é doloroso. Por isso, um apoio profissional, muitas vezes, é recomendado. Que todos tenham a chance e o direito de experienciarem a felicidade”, finaliza.