São Paulo, 19 de março de 2019 – O empreendedorismo que está mudando o cenário econômico do Brasil é o foco do 2º Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental, estudo conduzido pela plataforma-vitrine Pipe.Social. Durante cinco meses, as pesquisadoras Livia Hollerbach e Mariana Fonseca mergulharam no ecossistema nacional para levantar os desafios e oportunidades do empreendedorismo de impacto. Como resultado, um estudo robusto composto por pesquisas quantitativa e qualitativa – focadas em 1.002 negócios de impacto social –, dados e análises do contexto do país, além de visões dos principais especialistas de empreendedorismo social.
A pesquisa aprofunda os resultados com entrevistas que trazem pormenores relevantes do perfil e dinâmica desses mais de mil negócios. Na base das reflexões, o propósito foi buscar inspirações e boas práticas que possam ser compartilhadas entre os empreendedores. A íntegra do mapeamento exclusivo sobre os negócios de impacto social e ambiental do Brasil foi apresentada nesta terça-feira, 19 de março. O estudo 2º Mapa de Negócios de Impacto Social +Ambiental foi lançado no Civi-co, Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 445, Pinheiros.
Retrato do setor
O 2º Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental tem, entre os setores mapeados, 46% dos negócios trazendo soluções de tecnologia verde; 43% cidadania; 36% educação; 26% saúde; 23% serviços financeiros; e 23% cidades. Dos mais de mil negócios de pesquisados, 62% estão no Sudeste – sendo 38% em São Paulo, 12% no Rio de Janeiro, 11% em Minas Gerais e 1% no Espírito Santo –; 14% no Sul; 11% no Nordeste; 7% na região Norte; 5% no Centro-Oeste. Sobre o gênero dos fundadores, 32% dos negócios foram fundados apenas por homens; 18% têm mais homens entre os fundadores; 22% um quadro misto; 7% mais mulheres; e 21% apenas mulheres. Sobre a equipe, 16% trabalham sozinhos (EUquipe); 54% têm de duas a cinco pessoas; 30% seis ou mais profissionais; 77% usam freelancers na equipe e 23% profissionais fixos. Sobre o tempo de existência, 38% têm menos de dois anos; 36% de dois a cinco anos; e 26% mais de cinco anos.
Analisando o perfil do principal fundador dos negócios pesquisados vemos que 66% são homens e 34% mulheres; 66% são brancos, 19% pardos e mulatos, 7% negros, 3% de orientais e 1% indígena. Esse empreendedor tem entre 30 e 44 anos (53%); 21% entre 19 e 29 anos; 17% entre 45 e 54 anos; e 9% acima de 55 anos. Há concentração no Sudeste do país: 62% estão na região, sendo 38% em São Paulo, 12% no Rio de Janeiro, 11% em Minas Gerais e 1% no Espírito Santo. Os homens ainda são maioria no quadro societário nas verticais de Cidades (57% tem apenas homens ou mais homens); e Tecnologias Verdes (55%). A presença de mulheres é maior nos negócios relacionados à Cidadania (36% têm apenas mulheres ou mais mulheres) e Educação (37%).
PRINCIPAIS CONCLUSÕES DO MAPEAMENTO
MATURIDADE & GÊNERO | Os negócios fundados apenas por homens – ou que têm mais homens –, sobem nas faixas de faturamento entre R$ 501 mil a R$ 1 milhão por ano (67%) e, em especial, entre os que registram R$ 4,1 milhões ou mais de faturamento (74%). Enquanto os negócios com quadro societário majoritariamente feminino estão presentes nas faixas de até R$ 50 mil (33%) e de R$ 51 mil a R$ 100 mil por ano – 36% deles. Elas também crescem na base de microempreendedores individuais (44%) e em negócios não formalizados (33%).
As empreendedoras acessam menos capital investidor – enquanto 55% dos negócios fundados apenas por homens ou com mais homens do que mulheres no quadro societário já captaram investimento, apenas 25% das empresas com apenas ou mais mulheres como fundadoras conseguiram captar. A maior presença masculina no quadro societário é um padrão dos negócios que captaram investimento em incubadoras/aceleradoras, empresas privadas, fundos de venture capital, fundos de private equity e institutos/fundações; eles tendem a receber mais recursos por mecanismos de equity e dívida conversível. Os negócios com maior presença feminina no contrato social, por sua vez, têm acessado fontes como crowdfunding; Family, Friends & Fools (FFF), instituições públicas/governo, bancos de fomento e comerciais por meio de empréstimos e doações.
PRATEADOS | Segundo Livia Hollerbach, cofundadora da Pipe.Social e uma das coordenadoras da pesquisa, o empreendedor maduro têm ganhado espaço no setor. “O mapeamento mostra que 6% dos negócios foram fundados por empreendedores 60+. Um número que tende a aumentar nos próximos anos, já que o público maduro começa a desenvolver soluções para os próprios problemas e desafios enfrentados diariamente. De acordo com o estudo Tsunami Prateado, entre 2.330 brasileiros nessa faixa etária, um a cada 4 declara um forte desejo de empreender. No pipeline de impacto, vemos que o perfil do empreendedor maduro tende a atravessar o vale da morte com menor dificuldade se comparado ao dos mais jovens, já que no mundo dos negócios, experiência é algo que conta muito”, analisa.
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) | Sobre os drives que impulsionam investir tempo e talento na criação de negócios de impacto social, a maioria reporta ao sonho de construir uma sociedade mais sustentável e equânime. Enquanto os homens tendem a buscar soluções para as cidades e no setor de tecnologias verdes, as mulheres estão mais presentes na área da educação e cidadania. Sobre as causas que os movem, destaque para produção e consumo sustentável (39%), cidades e comunidades sustentáveis (37%), reduzir as desigualdades (30%), trabalho digno e crescimento econômico (31%) e ação contra a mudança climática (24%).
FATURAMENTO, CAPTAÇÃO & MONETIZAÇÃO | Dos 1.002 negócios mapeados, 76% estão formalizados; 82% têm soluções que também se dedicam à base da pirâmide; e 8% se dedicam exclusivamente à população de menor renda. A análise do faturamento mostra que 34% faturam até R$ 100 mil por ano; 11% entre R$ 101 mil e R$ 500 mil; 5% de R$ 501 mil a R$ 1 milhão; 3% de R$ 1,1 milhão a R$ 2 milhões; e 4% faturam acima de R$ 2,1 milhões, sendo que 43% dos entrevistados não faturam ainda. Sobre a captação de recursos, 81% estão captando atualmente – sendo 32% até R$ 100 mil e 32% de R$ 101 mil a R$ 500 mil – e 19% não estão captando. Sobre o modelo de negócios, 57% adotam o B2B (business to business); 56% B2C (business to consumer); 42% B2B2C (business to business to consumer); 29% B2G (business to government); e 12% C2C (consumer to consumer). O modelo de monetização mostra que 45% adotam a venda direta única; 43% recorrente; 31% assinatura; 23% publicidade; 18% comissão/sucess fee; 14% PAAS (plataforma como serviço); 13% SAAS (software como serviço); 10% licenciamento; 10% micropagamento; e 7% IAAS (infraestrutura como serviço).
FONTES DE RECURSOS & ACELERAÇÃO | Sobre as fontes de recursos, 76% contaram com investimento próprio e, quem captou, relaciona 25% via Family, Friends & Fools (FFF); 11% de sócios-investidores; 11% de institutos e fundações; 10% de aceleradoras/incubadoras; 9% de instituições públicas/governo; 8% de empresas/corporate venture; 8% via crowdfunding; 6% investidor-anjo profissional; 3% de bancos privados; 3% de bancos de fomento; 2% de venture capital; 2% de private equity; e 1% crowd equity. Sobre aceleração, 9% já foram acelerados mais de uma vez e 30% uma vez.
DEMANDAS| Quando perguntados sobre as ajudas mais urgentes que necessitam, 48% dos empreendedores reportam auxílio financeiro; 22% mentoria; 19% comunicação; 19% parcerias e networking; 14% time/equipe; 12% processos ede gestão; 11% vendas; e 9% investidor. Entre os 9% que precisam de investidor, 8% desejam investir em infraestrutura; 6% em desenvolvimento; 5% em plano de negócio; 5% em assessoria jurídica; 4% em validação; e 2% em relacionamento com governo; 2% estratégia; 2% em tecnologia; 2% em aceleração; 1% em internacionalização; e 1% em governança.
A demanda por dinheiro é mais presente entre os empreendedores de tecnologias verdes (53%), e entre quem está na região Norte (68%) e do Nordeste (56%). A mentoria é uma ajuda que cresce entre os empreendedores de educação (25%) e os do Nordeste (27%); em comunicação, a predominância é em educação (22%) e cidadania (22%), e quem é do Sul (25%). Networking, é um pedido que aumenta no Sul (22%); assim como ajuda com a equipe, que vai para 25% entre empreendedores do Sul. “Nas análises conduzidas na Pipe.Social, um discurso presente entre empreendedores de todo o Brasil é a demanda pelo dinheiro aplicado, ou seja, um investimento que venha com conhecimento e apoio técnico ao negócio. O empreendedor precisa de dinheiro, mas demanda ainda mais de orientação e mentoria para navegar o custo Brasil de empreender, por exemplo”, afirma Livia Hollerbach, cofundadora da Pipe.Social e coordenadora do Mapa.
CIVIC TECHS | Dentro do universo de negócios de impacto na vertical de Cidadania, cresce o número de empresas que não usam tecnologia (de 25% na base geral vai para 34% em Cidadania). Ao mesmo tempo, dos negócios de impacto que usam Blockchain (8% na base geral), a maioria se concentra em Serviços Financeiros (14%). Há uma grande oportunidade para se explorar no campo de startups de impacto social desenvolvendo soluções para dar suporte, especialmente, a governos. A proposta é otimizar serviços e produtos, gerar mais transparência, certificação, gestão da cadeia de produtos e serviços, auditoria, eficiência, evitar desperdícios e baixar custos. Além de conectar cidadãos para solucionar os desafios e proporcionar soluções. Segundo Mariana Fonseca, uma sociedade 2.0 – com inovações e tecnologias disruptivas – demanda governos digitais que dialoguem com novas realidades. “Democracias maduras necessitam de cidadãos envolvidos, com voz e próximos aos governos; nesse cenário, devemos olhar para as civictechs, govtechs ou inovações em cidadania como oportunidades para enfrentar desafios do país. Aliás, desafios muitas vezes ligados à má gestão de informação, transparência de dados, certificações e redes que aproximam pessoas de governos, por exemplo. Esse é um ambiente propício para tecnologias emergentes como blockchain e Big Data”, avalia.
PATENTES | Analisando o cenário de patentes, entre os negócios de impacto pesquisados, vemos uma grande oportunidade por mais inovação de origem brasileira. O fato de o Brasil possuir poucas patentes pode significar pouco conhecimento tecnológico inovador aplicado nas soluções. Em contrapartida, significa uma oportunidade para incentivar a união da academia com empreendedores para a elaboração de soluções. “Vale pontuar a distância do Brasil da cultura de patente em relação aos outros países, principalmente no que concerne ao custo e benefício de defendê-la, mas há quem aponte, inclusive, que o fomento à inovação tecnológica tem um impacto profundo no desenvolvimento de um país como um todo”, afirma Mariana Fonseca. O Mapa aponta que entre os negócios entrevistados, 7% já possuem patente, 9% estão em processo e 13% estudam a possibilidade de solicitar.
ACELERADORAS | Formação de qualidade é um recurso imprescindível para fortalecer uma cultura empreendedora. E, nos últimos anos, a oferta de aceleração e formações para o empreendedor de impacto vem se diversificando, como por exemplo vemos o fortalecimento regional da oferta, indo para além da região sudeste e também em direção ao empreendedorismo de periferia. Também é nítida a busca por maior customização da formação – tanto em verticais específicas como educação, alimentação, saúde, floresta e cidades, quanto por etapas de pré e pós-aceleração e para solucionar problemas específicos da jornada do empreendedor como validação da ideia e modelo de negócio. \"O crescente envolvimento da academia é bem-vindo, seja via atores que incentivam a cultura do empreendedorismo de impacto entre universitários, seja via programas para formar incubadoras e fomentar mais soluções de impacto”, afirma Livia Hollerbach, cofundadora da Pipe.Social e coordenadora do Mapa. Mas, apesar dos esforços do setor, o empreendedor ainda se queixa de uma demanda pouco atendida: mais oportunidades de aceleração. Metade da base mapeada já tentou ingressar em um processo de aceleração e não obteve sucesso.
Entre os acelerados, 30% da base já foi acelerada uma vez e 9% mais de uma vez – esses números aumentam entre a vertical de Cidades (36% já foram acelerados uma vez), e entre os empreendedores da região Sul (37% já foram acelerados uma vez). Há uma predominância de negócios fundados só por homens (14% foram acelerado mais de uma vez), liderados por brancos (34% acelerados uma vez) e em fase de escala (16% acelerados mais de uma vez) e de tração (21% acelerados mais de uma vez e 40% acelerados uma vez). Também aumentam os índices de aceleração entre os negócios que captaram investimento (14% foram acelerados mais de uma vez e 33% já foram acelerados uma vez) e entre quem acompanha e comunica o próprio impacto (20% já foram acelerados mais de uma vez). A demanda por aceleração aumenta nas verticais Serviços Financeiros (57%) e Cidadania (59%); nas regiões Centro-Oeste (57%) e Norte (66%). As empresas com sócias mulheres (60%) e com maioria feminina (67%) estão entre as que mais demandam aceleração. As empresas estão, em geral, em fase inicial do negócio – 56% piloto, 58% protótipo, 73% validação e 76% ideia. Entre as que mais demandam, 56% não captaram recursos e 58% não têm métricas para definir impacto.
Entre os dois cases que estão endereçando essa demanda, destaque para Hangar e Aceleradora de Negócios de Impacto Social da Periferia. Fruto da parceria entre três atores do ecossistema de impacto, o programa Hangar lançou uma turma piloto em 2018 com foco na validação de modelo de negócio para empreendedores eartly stage. Com formato B2C, o programa flexibiliza a grade entre encontros semipresenciais, momentos em grupo e encontros com investidores para apoiar os acelerados. A primeira turma contou com 14 negócios, dos quais 11 empreendidos por mulheres, vindos de São Paulo e outras cidades do país.
A Aceleradora de Negócios de Impacto Social da Periferia – resulta da parceria da produtora A Banca, Artemisia e FGVCeen (Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas) – tem o objetivo de potencializar uma nova geração de negócios de impacto social que emergem das periferias do município de São Paulo. A primeira edição do programa em 2018 acelerou 10 negócios, todos da Zona Sul de São Paulo – entre eles o Empreende Aí, que hoje é uma escola de negócios contribuindo na formação de mais empreendedores para o setor.
INVESTIMENTOS | Entre as alternativas de investimento de impacto estão os fundos de impacto (FIP, investimento em participações) e Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC); investimento direito via redes e plataformas (empréstimos, financiamentos coletivos como crowdequity e crowdlending) e investimento-anjo; títulos de renda fixa (securitização de recebíveis e contratos de impacto social); oferta de produtos de impacto via distribuidores.
Nos últimos anos, o setor de negócios de impacto social e ambiental se movimentou para diversificar a oferta de recursos financeiros focados em apoiar o empreendedor e já colheu resultados. O primeiro caso é da Vox Investimentos que teve sucesso no retorno financeiro – 26% ao ano – e de impacto: mais de 100 mil usuários em 2017 que economizaram média de R$406 em serviços de saúde com a empresa TEM. Estudo Panorama do Setor de Investimento de Impacto no Brasil (outubro/2018), revela oito saídas desde 2016. As maiores incidências são dos setores de habitação e capacitação. No total, o retorno do investimento foi de US$ 600 mil com pagamento de dívidas.
A Gaia Cred II – empresa do grupo Gaia – também lançou a primeira debênture de impacto social para dar suporte à Vivenda. Ao todo, foram captados R$ 5 milhões e a expectativa é que impacte a vida de mais de 32 mil pessoas, em cinco anos, com as reformas estruturais. A primeira debênture de impacto social possui prazo de 10 anos e taxa de juros de 7% ao ano. Entre as novas iniciativas, destaque também para o FORImpact – iniciativa foi desenvolvida pelo ICE e IMPACTIX com o objetivo de fomentar o investimento nas fases iniciais dos negócios de impacto por famílias de alta renda. Por meio de um programa estruturado de investimento e capacitação, 12 famílias e respectivos family offices foram engajados no processo de investimento em seis startups de impacto. Todos os aprendizados estão sendo sistematizados para a elaboração de uma cartilha detalhada de investimento nesse setor.
Há, ainda, outros atores investindo. Formado por 22 fundações e institutos, o grupo Fundações e Institutos de Impacto (FIIMP) foi criado para experimentar diferentes instrumentos financeiros, conhecer organizações intermediárias e acompanhar resultados de investimentos em negócios de impacto socioambiental.
Cada organização colocou no fundo US$ 10 mil (aproximadamente R$ 34 mil reais). O total arrecadado (R$ 703 mil) será alocado em negócios de impacto socioambientais, via intermediários, na sistematização e workshops de aprendizado. Todo processo, desafios e aprendizados, serão compartilhados em um guia para que outras fundações e institutos que se interessem pelo tema possam acelerar sua trajetória.
“A integração com o setor público também foi uma importante conquista. Com a criação do Comitê de Investimentos e Negócios há uma articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil com o objetivo de promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto. A legislação também flexibilizou a criação e divulgação de novos mecanismos e atores que possam aportar recursos para os negócios de impacto socioambiental”, analisa Mariana, acrescentando que um dos resultados desse processo foi a disseminação do termo Venture Philanthrophy – evolução da filantropia tradicional e que está centrada em três práticas: financiamento customizado para cada projeto ou negócio apoiado; suporte técnico e gestão; e mensuração de impacto. “É a combinação da alma da filantropa com o espírito do investimento, resultando em uma abordagem de longo prazo e alto engajamento para a geração de impacto socioambiental positivo por negócios de impacto social e organizações sem fins lucrativos”, salienta a pesquisadora.
Do outro lado, oito em cada 10 negócios está captando e – como mostrou a primeira edição do Mapa – a demanda continua a ser um tíquete mais baixo: 32% até R$ 100 mil; 32% de R$ 101 mil a R$ 500 mil; 17% de R$ 501 mil a R$ 1 milhão; e 19% acima de R$ 1,1 milhão. A demanda por um tíquete de até R$ 100mil aumenta nas verticais de Cidadania e Educação, na região Nordeste, entre negócios fundados por mulheres, entre quem está nas fases iniciais da jornada, não formalizados e sem faturamento. Já a demanda entre R$101mil a R$500mil aumenta na vertical Cidades, entre quem está no Norte e Centro-Oeste, negócios fundados por homens, na fase de Organização do Negócio, faturando até R$100mil. Entre os negócios que detalharam fontes e mecanismos de recursos ao longo da jornada - 85% da base, ou seja, 849 negócios – 42% apenas investiram capital próprio, 24% captaram apenas recursos de terceiros e 34% investiu capital próprio e captaram recursos de terceiros. De 356 negócios que detalharam os mecanismos de captação utilizados, 60% mencionaram doação; 26% equity; 26% empréstimo; e 15% dívida conversível.
Dos 1.002 mapeados, 22% já captaram recursos via doação. “Este mecanismo é, como esperado, o mais acessado por associações e cooperativas que buscam recurso, também, via empréstimo. Mas, também vemos essa maior captação em negócios registrados como MEI e entre os que ainda não se formalizaram – a maioria nos estágios iniciais da jornada”, analisa Mariana Fonseca. Segundo ela, a mobilização de atores para aumentar o fluxo de recursos financeiros no setor é cada vez maior, apesar de ainda não registrar um impacto imediato no pipeline de negócios.
TECNOLOGIA | Os negócios de impacto social que fazem uso da tecnologia tendem a atrair mais investimento; recurso financeiro que traz mais inovação para as soluções e podem tornar o negócio mais escalável. Segundo Mariana Fonseca, uma das coordenadoras do mapeamento, a tecnologia traz maior potencialização da proposta de valor do negócio; amplia o potencial da escala e competitividade; aumenta a possibilidade de surgir novas soluções; aumenta o impacto social e ambiental, que resulta em democratização; e aumenta o retorno do investimento para quem apoia esses negócios e para os próprios empreendedores.
A análise mostra o uso de tecnologias como – 27% são Big Data; 26% Inteligência Artificial; 22% Internet das Coisas; 20% Energias Renováveis; 14% Biotech; 12% Chatbot; 8% Blockchain; 8% Realidade Mista; 7% Moedas Virtuais; 5% Impressora 3D; 5% Drones; 3% Robótica; e 21% outras como Mobile, aplicativos e ferramentas proprietárias. “Nesse contexto, as tecnologias difundidas e de baixa complexidade podem auxiliar os negócios de impacto a otimizar processos, reduzir custos, melhorar a experiência dos produtos e serviços, e escalarem alcance. Falar de tecnologia e negócios de impacto é falar, muitas vezes, de serviços e ferramentas que otimizam processos de gestão, logística, análise de dados, usabilidade e até métricas de impacto e redução de custos. São soluções não muito complexas e já conhecidas que podem ser adaptadas a novos contextos e fazer a diferença para o campo de impacto”, afirma Mariana. A especialista acrescenta que, por outro lado, é preciso enxergar o potencial da tecnologia que chamamos ‘hard science’.
“São tecnologias mais complexas que demandam maior profundidade de conhecimento e mais tempo de maturação. No longo prazo não podemos ignorar que questões como clima, agronegócios, resíduos, por exemplo, serão desafios crescentes e que vão demandar muita pesquisa e desenvolvimento tecnológico avançado”, finaliza.
Mariana Fonseca alerta para a menor presença de mulheres fazendo uso de tecnologias como Big Data, Inteligência Artificial, ChatBot, Blockchain, Biotech, Moedas Virtuais e Internet das Coisas. “Vemos times mistos em empresas que fazem uso de energias renováveis, drones, impressão 3D e robótica. No entanto, na busca por competitividade, escalabilidade e inovação, as mulheres podem sair perdendo se não se aproximarem das oportunidades oferecidas por outras tecnologias. Mas, é preciso ressaltar que elas são mais conservadoras nas respostas sobre tecnologia. Ou seja, homens respondem assertivamente que trabalham com tecnologia sem refletir sobre a complexidade da pergunta; mulheres são mais reflexivas nessa resposta”, avalia. A especialista salienta, porém, que há alguns tipos de soluções tecnológicas nas quais as mulheres se destacam; a realidade aumentada é uma delas.
O mapeamento mostra que não usar tecnologia pode significar rever produtos, serviços e modelos de negócios no futuro. O custo e o desafio do crescimento podem aumentar – ou não – dependendo da ferramenta empregada para dar suporte: seja na solução ou na própria gestão do negócio. A relevância da tecnologia também aparece na análise de negócios que já foram acelerados ou captaram recursos financeiros. Entre os acelerados, Big Data, ChatBot, Inteligência Artificial e Internet das Coisas; entre os que já captaram investimento, Big Data e Inteligência Artificial; entre os que estão em busca de investimento, usam BlockChain, ChatBot, Energias Renováveis, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Moedas Virtuais e Realidade Mista.
\"Apesar do número crescente de negócios de impacto identificados no Brasil, percebe-se que o estágio de maturidade das empresas ainda se encontra em etapas mais iniciais, com ampla demanda por capital semente. A presença de programas de aceleração, validação de soluções por grandes corporações e, fundamentalmente, o apoio de anjos emerge como real necessidade. Evidencia-se isso, por exemplo, ao verificar que dos negócios mapeados, 45% dos entrevistados ainda não geram receitas. Logo, necessitam finalizar protótipos, validar modelo de negócios e perfil de clientes, que são pontos críticos do estágio \'semente\'. Por outro lado, percebe-se tanto o amadurecimento dos empreendedores, no que diz respeito à adoção ou intenção de adotar tecnologias exponenciais aplicadas às soluções de impacto frente mapeamentos anteriores. Hoje, pelo menos três quartos dos empreendedores adotam soluções de base tecnológica no âmbito de seus produtos e serviços, trata-se de patamar inédito”, avalia Jayme Queiroz, analista de Investimentos, Apex-Brasil, um dos patrocinadores do estudo.
VISÃO POR ÁREA DE IMPACTO
CIDADANIA | São negócios que oferecem soluções para democracia, gestão de governo, transparência, engajamento cívico, inclusão social, questões de diversidade e gênero, direitos e deveres do cidadão. Desses, 62% estão no Sudeste e 16% no Sul; 73% são formalizadas e 25% existem há mais cinco anos. A média é de duas a 5 pessoas para 55% das empresas, sendo que 18% classificam como EUquipe. Sobre o faturamento, 41% não faturam; 39% faturam até R$ 100 mil; 11% até R$ 500 mil e 3% acima de R$ 2,1 milhões. Quanto a captação, 82% estão captando recursos; desses, 39% até R$ 100 mil; e 12% mais de R$ 1,1 milhão.
CIDADES | São negócios com soluções para mobilidade urbana, habitação, monitoramento de dados, segurança pública, uso de áreas públicas e demais desafios urbanos). Desses, 64% estão na região Sudeste, sendo 42% em São Paulo e 12% no Rio de Janeiro; 76% não estão formalizados e 27% existem há mais de cinco anos. A média de profissionais na equipe é, para 56%, de duas a cinco pessoas. Enquanto 48% não faturam ainda, 5% já faturam acima de R$ 2,1 milhões e 4% de 1,1 milhão a R$ 2 milhões. Sobre a captação, 82% estão captando e a busca de 20% é por capital acima de R$ 1,1 milhão; 27% buscam até R$ 100 mil.
EDUCAÇÃO | São negócios com soluções para todos os segmentos de educação da primeira infância ao ensino superior, atuando em diferentes níveis – pais, alunos, professores, gestores e governo. Desses, 69% estão na região Sudeste e apenas 4% no Norte do país; 76% são formalizados e 28% existem há mais de cinco anos. Enquanto 37% não faturam, 5% estão faturando acima de R$ 2,1 milhões e 2% de R$ 1,1 milhão a R$ 2 milhões.
SERVIÇOS FINANCEIROS | Empresas com serviços financeiros voltados para a base da pirâmide, visando redução de custos e escala em áreas como acesso a crédito, transações financeiras, educação financeira, formalização de negócios, entre outros. Desses negócios, 54% estão na região Sudeste; 76% são formalizados; 23% existem há mais de cinco anos; 44% ainda não faturam e 5% faturam acima de R$ 2,1 milhões. Sobre a captação, 85% estão captando; desses, 67% até R$ 500 mil.
SAÚDE | São negócios com soluções específicas para problemas de gestão da saúde – atendimento, governança, análise de dados, redução de custo – até soluções com foco na melhoria da qualidade de vida de pacientes tais como diagnósticos, tratamentos, prevenção, suporte e cura. Desses, 77% são formalizados; 65% estão no Sudeste e apenas 5% no Norte; 29% atuam há mais de cinco anos; 5% faturam acima de R$ 2,1 milhões e 47% não fatura. Entre os que faturam, o maior índice, ou seja, 31% estão faturando até R$ 100 mil.
TECNOLOGIAS VERDES | São todos os tipos de negócios que têm impacto ambiental (energia, água, poluição, reciclagem, resíduos); projetos com impacto em agricultura, biotecnologia, análises de atmosfera, soluções para preservação de fauna e flora. Desses, 58% ficam no Sudeste, 12% no Norte, 14% no Sul e 10% no Nordeste. Sobre o faturamento, 45% não faturam, 32% até R$ 100 mil e 5% acima de R$ 2,1 milhões. Entre as empresas que atuam no setor, 85% estão captando recursos.
SOBRE O MAPA DE NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL + AMBIENTAL
Conduzido pela equipe da Pipe.Social – plataforma de conexões para fomentar o ecossistema de impacto no Brasil –, a segunda edição do Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental foi estruturado para acompanhar a evolução do pipeline de negócios de impacto socioambiental no país, ajudando a orientar estratégias e ações dos diversos atores que estão construindo e fomentando um novo setor da economia do país. O Mapa tem uma medição a cada dois anos para trazer dados e números atuais sobre o perfil e atuação dos negócios, assim como um overview dos esforços e agenda do ecossistema para apontar gaps, desafios e oportunidades de crescimento do setor no país.
A segunda edição do mapeamento conta com uma pesquisa quantitativa – 1.002 negócios compõem a base – e análises qualitativas do contexto do país, conduzidas por meio de entrevistas em profundidade com os empreendedores, além de visões dos principais especialistas em startups e negócios de impacto social do Brasil e exterior. A equipe conduziu, ainda, sessões de análise com diversos atores do ecossistema para construir uma visão de futuro do setor. O filtro para análise foi norteado por negócios com sustentabilidade financeira que não dependem ou dependem de subsídio para cobrir até 50% da despesa operacional. A pesquisa de campo foi realizada entre janeiro e fevereiro de 2019.
Sobre os setores mapeados, destaque para Educação (negócios com soluções para todos os segmentos de educação da primeira infância ao ensino superior, atuando em diferentes níveis – pais, alunos, professores, gestores e governo); Saúde (desde negócios com soluções específicas para problemas de gestão da saúde – atendimento, governança, análise de dados, redução de custo – até soluções com foco na melhoria da qualidade de vida de pacientes como diagnósticos, tratamentos, prevenção, suporte e cura); Serviços Financeiros (serviços financeiros voltados para a base da pirâmide, visando redução de custos e escala em áreas como acesso a crédito, transações financeiras, educação financeira, formalização de negócios etc); Cidadania (negócios com soluções para democracia, gestão de governo, transparência, engajamento cívico, inclusão social, questões de diversidade e gênero, direitos e deveres do cidadão); Cidades (negócios com soluções para mobilidade urbana, habitação, monitoramento de dados, segurança pública, uso de áreas públicas e demais desafios urbanos); e Tecnologias verdes (todos os tipos de negócios que têm impacto ambiental – energia, água, poluição, reciclagem, resíduos –, projetos com impacto em agricultura, biotecnologia, análises de atmosfera, soluções para preservação de fauna e flora).
A segunda edição do Mapa – com o patrocínio da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto; Itaú e Apex Brasil – traz inovações e mostra a união do ecossistema de negócios de impacto social para uma ação conjunta de mapeamento desses negócios. Na prática, a Pipe.Social articulou cerca de 55 organizações que somaram esforços para entender melhor o pipeline atual e as demandas e oportunidades dos negócios nos diferentes estágios de maturação. O Mapa Negócios de Impacto foi coordenado por Mariana Fonseca e Lívia Hollerbach, sócias-fundadoras da Pipe.Social.
SÓCIAS-FUNDADORAS DA PIPE.SOCIAL E COORDENADORAS DA PESQUISA
Mariana Fonseca
Fundadora da Pipe.Social, vitrine de negócios de impacto no Brasil, e da Mariposa, empresa que conduz curadoria e produção de conteúdo sobre tendências, tecnologias e impacto. Ela é jornalista, com diploma em globalização, mídia e internacionalização pela universidade Panthèon Assas, em Paris, formações em tecnologias exponenciais e inovação pela Singularity University, na NASA, no Vale do Silício e pelo TIP, Hebrew University, em Israel. Além de cursos especializados como o Creating Shared Valued, da Harvard Business School. Ela também faz parte do board do Girls in Tech Brazil. Ajudou a criar e foi editora chefe do Porvir, projeto do instituto Inspirare que mapeia inovação em educação pelo mundo. Ela também foi cofundadora da A Corrente do Bem no Brasil, parte do Pay It Forward Day. Foi editora-assistente do Le Monde Diplomatique Brasil e trabalhou com engajamento cívico pela Webcitizen, TEDxSP e TEDxAmazonia.
Lívia Hollerbach
Fundadora da Pipe.Social, vitrine de negócios de impacto no Brasil, e da Alas Conhecimento+Estratégia, consultoria de pesquisa e inovação. Publicitária com pós- graduação em Antropologia Social pela Universidad de Barcelona; pós-graduação em Coolhunting pela Universidad Ramon Llul e pós-graduação em Dinâmica dos Grupos pela Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos. No campo de pesquisa há mais de 15 anos, foi líder de projetos na Expertise e Voltage no Brasil; e Millward Brown, na Espanha. É cofundadora da A Corrente do Bem no Brasil, parte do movimento internacional Pay It Forward Day.
PIPE.SOCIAL
Cofundada por Mariana Fonseca e Lívia Hollerbach, a Pipe.Social é uma plataforma-vitrine que conecta negócios com quem investe e fomenta o ecossistema de impacto socioambiental no Brasil. A empresa mapeia negócios alinhados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) e com uma base de mais de 2 mil negócios, a Pipe.Social estuda o setor, expõe oportunidades e benchmarks, promove chamadas de negócios para investidores, aceleradoras, marcas e atores do ecossistema e experiências de inovação com empresas que desejam se aproximar deste mercado. https://pipe.social
PATROCINADORES | Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, Itaú e Apex Brasil.
PARCEIROS | Abellha, Anprotec, Anjos do Brasil, ANDE, Artemisia, Ashoka, Baanko, Bemtevi, Bluefields, BNZ For Startups, CIEB, CIEDS, Civi-co, CESAR, CERTI, Climate Ventures, Choice, Din4mo, Empreende Aí, Endeavor, Feira Preta, Fundo Vale, Hype60+, ICE, IDESAM, Impact Hub, Impact Lab, In3citi, Innovativa Brasil, Insper, Kaleydos, MOV Investimentos, NESsT, Palladium, Performa Investimentos, Plug, Plataforma Parceiros pela Amazônia, Ponte a Ponte, Positive Ventures, Porvir, Projeto Semente, Quintessa, Raja Valley, Sebrae-RJ, Semente, Sense-Lab, Sistema B, Sitawi, Social Good, Vox Capital, Yunus Negócios Sociais e Wylinka.
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