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Ueze Elias Zahran, um brasileiro de fé
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Artigo do publicitário Roberto Duailibi em homenagem a Ueze Elias Zahram, que morreu recentemente


Ueze Elias Zahran, um brasileiro de fé

Roberto Duailibi

Amizades de infância, por vezes, têm o dom de despertar em nós lembranças doces. Vez ou outra, a esse sentimento se soma o respeito por uma vida de construções positivas. É o caso de Ueze Elias Zahran, que faleceu no dia 27 de dezembro de 2018, aos 94 anos. Fomos vizinhos na rua 14 de Julho, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, nos anos 1930-1940. As lojas eram separadas apenas por um estreito corredor, que servia para acessar as casas, que ficavam atrás das lojas. Nossos pais eram comerciantes pobres e nós desenvolvemos uma amizade de toda uma vida.

As lembranças doces, agora, afloram como nunca. Bem como o respeito pelo muito que ele construiu. No quintal de seu pai, seu Elias, havia mangueiras. No nosso, um imenso abacateiro. O sol da tarde iluminava as fachadas das lojas de número par da rua 14, os sacos de coalhada pendurados ao varal, os canteiros de hortelã e erva-cidreira. Brincávamos em português, árabe e espanhol. Português, está claro, porque no Brasil estávamos. Árabe pela origem libanesa de nossas famílias. E espanhol pela proximidade do Paraguai e pela audiência das rádios argentinas.
Ueze era mais amigo de meu irmão mais velho, Victor. Juntos fizeram o curso à distância de conserto de rádio, com apostilas vendidas, naqueles tempos, pelo Instituto Universal Brasileiro. Jovens, fizeram o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) e em uma ocasião visitaram as lojas da rua 14 montados em cavalos da Remonta do Exército, para grande espanto dos comerciantes. Os irmãos mais novos vibravam de orgulho. Ueze era divertido, bem-humorado. Naquela época, gostava de contar uma piada sobre os cavalos de Remonta do Exército. Acontece que quando um cavalo ficava velho, o Exército o vendia para padeiros e carroceiros. Uma manhã, um carroceiro vinha passando em frente ao quartel com seu velho cavalo quando tocou o clarim com a ordem para os cavalos se alinharem. No mesmo instante, o velho animal entrou no quartel e se alinhou aos outros. Ao vê-lo, os demais comentaram: “Olha o 435 nos visitando a paisana”. Era uma piada que só um oficial da cavalaria acharia graça. Mais tarde, se tornou o maior criador de cavalos puro-sangue árabe no Brasil.

Certa feita, uma senhora poderosa no governo lhe disse que gostaria de conhecer um cavalo árabe e ele respondeu: “A senhora precisa também conhecer um homem árabe”. Quando contava esse caso logo acrescentava: “Por sorte ela não se interessou!” As lembranças são muitas. Ueze Zahran se tornou um grande empresário e filantropo. Foi pioneiro em várias áreas. Mas sempre dizia que sua grande vitória não estava no mundo dos negócios. Sua grande vitória foi a conquista de Lucila, sua esposa por 60 anos, mãe de suas três filhas, Márcia, Ana Karla e Simone, e do filho Carlos Eduardo. Além deles, deixou seis netos e três bisnetos. Sem falar em milhares de funcionários, colaboradores, companheiros e amigos.

Ueze Zahran nasceu em Bela Vista, no interior do Mato Grosso, em 15 de agosto de 1924. Seus pais, seu Elias e dona Laila, cristãos devotos de São Jorge, eram originários do Líbano, mais precisamente de Chouf, ao sul de Beirute, uma das regiões mais bonitas do mundo. Fica a 1.100 metros de altitude e seus vales são cobertos por florestas de cedro e pinho. A névoa ali era tão cerrada que no inverno as pessoas não conseguiam sair de casa. Pois seu Elias casou-se com dona Laila e mudou-se para Bela Vista, onde a temperatura média é de 40 graus. Não foi fácil para ele ou para a esposa, mas a família cresceu.

Ueze foi o segundo de seis irmãos: eram Eduardo, Ueze, Jorge, João, Nagib e Jeannette. Bar, padaria, torrefação de café, distribuição de farinha de trigo. Ueze fez de tudo antes de casar, aos 31 anos de idade, com Lucila – e realizar seu primeiro grande empreendimento: a Copagaz, que se tornaria, 60 anos depois, a 5a. maior distribuidora de GLP do país. A história desse negócio? Bem, Ueze contava que havia levado sua mãe para passar um mês em São Paulo, no início dos anos 1950, quando se vinha de trem, numa viagem de 3 dias. Nesse tempo, no Mato Grosso como de resto na maior parte do país, se cozinhava em fogão a lenha – e em SP dona Laila ficara extasiada com os fogões a gás, com a chama azulzinha. Pediu um fogão moderno ao filho e este, desejoso de agradá-la, comprou um e despachou para Mato Grosso, junto com o botijão de gás. Para cada botijão que esvaziava, Ueze tinha de vir a São Paulo comprar outros.

Daí resolveu pedir uma autorização ao Conselho Nacional de Petróleo para engarrafar o gás liquefeito. Depois de muita insistência, a licença saiu em 1955 e ele passou a engarrafar o gás em São Paulo e enviá-lo por via férrea a Campo Grande. Daí em diante só cresceu. No começo, vendia 900 toneladas de gás por ano. Atualmente a Copagaz está em 18 estados e vende 600 mil toneladas. Ueze foi pioneiro, também, no setor de comunicação. No Natal de 1965, junto com seus irmãos, inaugurou a TV Morena, primeira emissora de televisão do antigo estado de Mato Grosso.

Dois anos depois, inaugurou a TV Centro América. Por que entrou nessa área? Porque gostava da Jovem Guarda, de Roberto Carlos e sua turma, e queria que o povo de Mato Grosso pudesse conhece-los também. Hoje, com outras 5 emissoras, rádios e sites, a Rede Mato-Grossense de Comunicação é uma das maiores empresas do setor no país.
Em 1999, criou a Fundação Ueze Zahran, que entre outras atividades oferece educação para adultos, curso de computação para idosos e promoção cultural para jovens e crianças. No ano de 2000, a Fundação criou, em São Paulo, o projeto Cirineu, para acolher e prestar atendimento à população de rua. Três anos mais tarde, o projeto foi escolhido pela prefeitura da capital para administrar um albergue. Por isso e muito mais recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos.

O título Doutor “Honoris Causa”, concedido pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em 2007, e o título de cidadão paulistano em 2012. Em 2015, recebeu da Organização das Nações Unidas o título de \"Guardião de desenvolvimento do milênio\", em reconhecimento às atividades de economia, sustentabilidade e utilidade pública nas empresas do grupo, que segue os princípios do pacto global estabelecidos pela ONU. Durante muitos anos lutou para que fossem criadas leis que obrigassem todas as companhias distribuidoras de gás a adotar medidas de segurança para evitar explosão de botijões. Levou essa luta como numa causa pessoal e se indignava com a negligência de alguns concorrentes, que finalmente tiveram de ceder à pressão. Salvou muitas vidas com essa campanha.

Em 2017 a Copagaz, com 3 mil funcionários, recebeu o Prêmio Época de melhor empresa para trabalhar no Brasil. Em árabe, seu nome é Uezen, com n no final. Significa o que tem crédito, força, poder, influência, valor, prestígio, carisma. Este era Ueze Elias Zahran. Wezen também é o nome de uma estrela hipergigante localizada perto das Três Marias, ao lado de Sirius, a estrela mais brilhante. O nome vem do árabe wasn, que significa peso. Este também era ele. Um homem de peso. De valor. De fé. Meu amigo de toda uma vida.
Roberto Duailibi é membro da Academia Paulista de Letras






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