Em três anos de existência, o desafio do Open Finance é produzir valor, através de produtos e inovação para empresas e pessoas
Flavio Gaspar (*)
O Open Finance, considerado uma evolução do Open Banking, vem se tornando cada vez mais relevante no mercado financeiro e desempenha um papel central na transformação dos ecossistemas digitais. Ao completar três anos de existência no Brasil, seu conceito, que vai além da simples abertura de dados, desafia uma colaboração mais ampla entre bancos, cooperativas, fintechs, governos e outros players do mercado. Potencializar sua evolução depende do conhecimento e interesse da população sobre seu uso, tendo o Banco Central e demais instituições financeiras como protagonistas dessa missão, explicando vantagens e benefícios ao consumidor. Além da pessoa física, o Open Finance possui uma capacidade extraordinária de transformar a relação entre Bancos e pequenas empresas, sempre tão necessária de capital e maior gestão financeira para suas evoluções.
Até o momento, mais de 211 mil empresas com conta bancária adotaram o instrumento no Brasil. E é justamente entre empresas que o Open Finance tem potencial enorme de crescimento. A abertura de dados de pequenas empresas gera enorme oportunidade para a inovação no mercado, acelerando a construção de ofertas de crédito aos pequenos e médios negócios, digitalizando e ampliando os horizontes de crescimento, com impacto direto na economia do país. Mas, é justamente na falta de educação financeira sobre o tema e também na ausência de produtos inovadores a este público, que reside o grande desafio dos próximos anos. Priorizar esta agenda será fundamental para as instituições se adaptarem, inovarem e prosperarem, convertendo o Open Finance num grande motor para instituições bancárias e empresas consumidoras de produtos financeiros.
Quando falamos do cliente pessoa física, o panorama do Open Finance é um pouco diferente. Embora tenhamos cases e exemplos de inovação e ofertas de valor com o compartilhamento de dados, o mercado vive um momento de desafio para ampliar os consentimentos, visto que após 3 anos de operação, os consentimentos dados pelos early adopters, estão vencendo e as pessoas que não enxergarem valor, dificilmente renovarão tais permissões.
Neste panorama, as instituições participantes do Open Finance precisam acelerar suas iniciativas de valor, criando novos produtos e soluções relevantes para empresas e pessoas físicas, com vistas a garantir maior penetração do Open Finance na sociedade e contribuindo com todo o ecossistema financeiro. Nesse contexto, as APIs são essenciais, pois permitem a troca segura e eficiente de dados entre diferentes instituições e provedores de serviços financeiros, acelerando quase todos os processos de negócios, como onboarding, créditos, processamento de pagamentos, etc.; criando experiências superiores, que engajam e geram negócios. Muito além das APIs, é nos dados que reside o grande benefício e também, o desafio do Open Finance. Ainda, à medida que as regulamentações evoluem e a tecnologia avança, o Open Finance está emergindo como um catalisador fundamental na redefinição do setor financeiro global.
A importância do Open Finance reside não apenas em sua capacidade de impulsionar a inovação, melhorar a experiência do usuário e fomentar a concorrência, transformando o modo como as informações financeiras são acessadas, compartilhadas e usadas, mas principalmente, na forma como o consumidor passa a ser o grande protagonista de seus dados, exigindo melhores alternativas para seus negócios.
Em 2023, a adesão ao sistema dobrou, chegando a 28 milhões das pessoas com conta bancária no Brasil. Segundo a Juniper Research, o Open Banking, que consiste no compartilhamento, acesso e reutilização de dados financeiros pessoais e não pessoais, terá um crescimento de 479% entre 2022 e 2027, gerando cerca de US$ 330 bilhões em transações em cinco anos.
Proporcionar experiências financeiras mais eficientes e personalizadas aos usuários são prioridade para as organizações, para se manterem competitivas e atenderem às crescentes demandas. Para a continuidade do sucesso e crescimento do Open Finance, precisamos, em grande medida, da forte confiança dos clientes, especialmente na utilidade, valor e reutilização de dados e informações. Por outro lado, é fundamental proteger indivíduos e empresas, reforçando as estratégias de segurança e interoperabilidade e mitigando riscos associados ao acesso e ao uso de dados.
(*) Flavio Gaspar é CPO da Topaz, uma das maiores empresas de tecnologia especializadas em soluções financeiras digitais. Presente em 25 países das Américas, a Topaz conta com uma plataforma full banking reconhecida pelo Gartner, Forrester, Celent e outras consultorias internacionais.