Tecnologia a serviço da autoestima e da qualidade de vida de pacientes em tratamento de câncer. Quem faz tratamento com quimioterapia no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ) pode se beneficiar do uso da touca inglesa, que utiliza crioterapia para reduzir em até 80% a queda de cabelo provocada pelo uso de medicações quimioterápicas. De acordo com a psicóloga Franciely Bottaro, responsável pelo Ambulatório de Psicologia para pacientes oncológicos do Hospital , o uso do equipamento pode trazer não apenas apenas benefícios físicos, mas também emocionais. “A preservação dos fios durante um período tão delicado auxilia muitos pacientes a manterem um senso de controle sobre sua aparência e identidade, o que, por sua vez, pode reduzir o estresse, a ansiedade e o entristecimento. Sentir-se mais próximo de sua imagem habitual pode trazer um conforto psicológico significativo, promovendo maior confiança e bem-estar durante todo o processo”, afirma.
Franciely ressalta que a influência direta na autoimagem e na autoestima estão entre os maiores desafios para quem precisa se submeter a um tratamento oncológico. E no caso da queda de cabelo, esse impacto é maior nas pacientes femininas. “Para muitas mulheres, o cabelo é um símbolo de feminilidade, identidade e até força. A perda desse elemento pode intensificar o sofrimento emocional, afetando a forma como a mulher se vê e como acredita ser vista pelos outros”, pontua. Ela destaca ainda que o cuidado com a saúde mental deve ser um foco constante. “O acompanhamento psicológico é fundamental, permitindo que a paciente tenha um espaço seguro para expressar seus medos, ansiedades e dúvidas. O apoio emocional adequado, aliado a intervenções como a touca inglesa, proporciona uma abordagem mais completa e humanizada no tratamento do câncer, promovendo não apenas a cura física, mas também a resiliência emocional”.
Como funciona?
Amanda Rodrigues, enfermeira supervisora da Oncologia e Radioterapia do HSVP, explica que a chamada touca inglesa utiliza a crioterapia. “O paciente é exposto a um resfriamento do couro cabeludo por algumas horas e, apesar do incômodo, temos um nível de sucesso significativo com este tratamento", revela.
O médico Cristiano Duque, membro da equipe de Oncologia do HSVP, explica que as baixas temperaturas na região do couro cabeludo contribuem para reduzir a circulação sanguínea no local na hora do tratamento. “O resultado é que uma quantidade menor de quimioterapia chega naquela região, reduzindo o risco de queda de cabelo”, diz ele. Nem todos os pacientes em tratamento quimioterápico têm indicação de utilizar a touca inglesa e esta orientação deve partir do médico assistente. “As melhores evidências científicas sobre o uso da touca inglesa foram a partir do uso de um quimioterápico específico, mas essa tecnologia pode também ser aplicada caso o paciente faça uso de outros remédios que causam alopecia”, conclui o médico.