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A Nutricionista Clínica Funcional Dra. Carina Scapinelli- Cred. Divulgação |
Especialistas apontam que a alimentação saudável da criança deve iniciar com a alimentação materna, antes, durante a gestação e na fase de lactação a fim de possibilitar o reconhecimento de sabores em idades maiores. Este período irá influenciar as preferências e os hábitos alimentares na infância e na vida adulta, mostrando a importância que os pais desempenham na construção dos hábitos alimentares dos filhos.
A alimentação adequada é de fundamental importância durante toda a vida, pois contribui decisivamente para o crescimento, desenvolvimento fisiológico, desempenho e produtividade, assim como para a manutenção da saúde e do bem-estar. As crianças precisam de um suporte equilibrado de nutrientes, para possibilitar seu apropriado desenvolvimento cognitivo e psicomotor.
Mas o que é seletividade alimentar?
É um tema de estudos relativamente novo, mas de acordo com os especialistas da área de nutrição a Seletividade Alimentar é classificada como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Mais do que apenas ser um comedor exigente, a pessoa com seletividade alimentar costuma ter aversão sensorial a certos sabores, texturas ou cores, chegando a desenvolver fobia de determinados alimentos.
Para a Nutricionista Dra. Carina Scapinelli, Especialista em Nutrição Funcional, que atua há mais de 20 anos em Nutrição Clínica com foco no público infanto juvenil, “a questão mais importante é entender que a Seletividade Alimentar existe, saber quais são os tipos, e identificar a questão comportamental e fisiológica. Com isso, as pessoas perceberão que não comer, não é uma frescura, é um problema. Hoje sabemos disso”.
O profissional nutricionista, para entender o problema, precisa identificar desde questões fisiológicas, como uma disbiose intestinal, a traumas na infância ou questão motor oral ou disfunção do transtorno sensorial, que pode estar interferindo na alimentação. Com base nessa análise, o profissional terá um olhar preciso para essa criança.
E onde a Educação Alimentar e Nutricional entram no processo?
Quando começamos a brincar com a criança, além de despertarmos curiosidade, entendimento, abertura de novos olhares, analisamos se ela está conseguindo tocar em determinado alimento. Em caso negativo, isso pode significar uma disfunção sensorial, uma hipersensibilidade alimentar, o que também acaba neuroinflamando o organismo. Para termos um bom desenvolvimento, tudo precisa funcionar em harmonia e equilíbrio, inclusive o cérebro, o sistema nervoso central.
Então, há motivos para essa criança não comer. Nesse exercício, o profissional vai entender se é uma seletividade simples ou é uma seletividade extrema e até que ponto deverá entrar com uma suplementação e ajudar essa criança, ou apenas promover ajustes.
Atualmente observamos muitas crianças com a função sensorial comprometida. Muitas pessoas não têm ideia que melhorando a nutrição, podem melhorar, inclusive, a questão sensorial.
“Nós nutricionistas não fechamos diagnóstico. Mas precisamos entender o que está por trás da criança seletiva e buscar as causas. Não dá mais para se deparar com uma criança de oito anos, que come papinha, mas nunca ninguém olhou para ela e falou opa, espera aí isso não está adequado, o que está acontecendo? aponta a nutricionista Dra. Carina Scapinelli.
Dentro do consultório aparecem muitas crianças com seletividade extrema ou dificuldade alimentar, a ponto de não se relacionar com o alimento, nesse caso faltou um olhar para ela que precisa de acompanhamento, de uma terapia ocupacional, talvez intervindo, e o nutricionista dentro do consultório fazendo um trabalho mais avançado com ela. “Antes achávamos que problemas sensoriais estavam ligados ao autismo, hoje sabemos que não é bem assim”, comenta a especialista.
Aumento dos casos de crianças com seletividade alimentar gera estresse nos pais
“Nesses meus mais de 20 anos de atuação, observo que até há bem pouco tempo a procura dos pais no consultório era por indicação médica, de obesidade, colesterol alto, hoje a procura de pais de crianças com seletividade alimentar é muito grande, porque o filho que não come gera um grande estresse a eles, que têm que administrar uma alimentação seis vezes ao dia, 365 vezes ao ano. Eles se sentem cansados e procuram diversos profissionais, demoram a chegar no nutricionista. Aí perdemos a oportunidade de trabalhar com essa criança na fase inicial do problema, porque o auge do neurodesenvolvimento ocorre nos cinco primeiros anos de vida, e muitas vezes no segundo ano de vida, por suposição, acham que vai melhorar, é uma fase e vai passar, muitas vezes quando chegam no nutricionista já passou essa fase do neurodesenvolvimento”, aponta Scapinelli.
Criança com seletividade extrema nunca está sozinha
A seletividade extrema em crianças nunca é algo isolado. Sempre está associado a processos alérgicos, disfunção intestinal, ou algum desequilíbrio associado à irritação, são crianças que as vezes têm transtorno também de TDH - Transtorno de Déficit de Atenção -. Está tudo interligado, porque quando falamos de inflamação é o eixo todo, a neuroinflamação, que pode levar aos desequilíbrios de formação de neurotransmissores. A criança muitas vezes age e depois pensa, ela não consegue pensar para agir.
Para comer é preciso ter conforto sensorial- a criança não quer surpresa de sabores
Quando falamos de alimentos ultraprocessados tudo ali é pensado e desenhado, é o açúcar que deixa o cérebro feliz, uma textura fácil de comer, um aroma maravilhoso e um visual onde você olha para o pacote e vê um super herói, certamente foi feito para ser muito palatável e agradável, porém são alimentos que neuroinflamam, contém elementos químicos, como: aditivos, corantes e conservantes.
Quando a criança vai para um alimento da natureza, pode ter surpresa, um dia está mais doce, no outro mais azedo e ela, com essa questão sensorial, não quer surpresa, passa a não gostar de alimentos naturais. Esse cérebro-informação está recebendo aditivos químicos, atrapalhando a formação e não recebendo o que forma sistema todo.
Os alimentos que contribuem para melhorar o quadro da seletividade
Carina Scapinelli destaca principalmente frutas, verduras e legumes, de preferência oriundos da produção orgânica. “Os alimentos orgânicos têm maior quantidade de GABA, um neurotransmissor que dá sentido às nossas emoções, então só o fato de pegarmos uma criança seletiva, que não está comendo e começarmos a introduzir, pelo menos um buquê de brócolis orgânico, já equivale a dez de um brócolis convencional, é perfeito para um começo, só que sabemos que o problema está aí, justamente são esses os alimentos que ela tem maior dificuldade, então precisamos trabalhar o profissional na escalada do comer. A mães chegam no consultório e querem que a criança saia comendo, mas mãe, ela não vai sair comendo”, destaca a nutricionista.
Aprender sobre a Escalada do Comer e brincar com recursos lúdicos
Elementos lúdicos de Educação Alimentar e Nutricional, desenvolvido pela Nutricionista Dra. Carina Scapinelli
É preciso primeiro entender o grau de dificuldade da criança e podemos entender isso brincando, usando recursos lúdicos, apresentando os alimentos, pois é preciso tolerar o alimento primeiro, interagir com esse alimento e muitas vezes não é com a mão, é com o garfo, porque ela não consegue tocar, cheirar, tocar, precisamos provar e depois comer e assim vamos evoluindo na escalada do comer .
O tempo de tratamento
O tratamento pode levar meses ou mais de um ano. “Quando a criança não tem seletividade mais extrema, a gente consegue em meses ver a criança comendo, sai do consultório animada para querer experimentar o alimento, pois ela não tem problema de integração sensorial. Já uma criança que tem problema mais extremo, certamente levará mais tempo para adquirir o equilíbrio, tem casos que levou um ano para conseguir se relacionar com o alimento, e tudo bem, esse é o tempo dela, porque um ano para uma vida é muito pouco, então se ela aprender a comer agora ela terá uma vida toda para desfrutar”, relata Carina.
A graduação da Seletividade Alimentar
Seletividade - onde a criança consome até 30 alimentos, não gosta de determinados alimentos, mas tem até uma variedade.
Dificuldade Alimentar ou Seletividade Extrema – a criança consome no máximo 20 alimentos, as vezes rejeita grupos alimentares inteiros, não come nada de fruta, verdura e carne, não consegue sentar à mesa para comer com a família. Essa criança não vai aprender a comer em meses, levará mais tempo na escalada do comer, não será a comedora habilidosa, que chamamos, não vai aprender a comer de tudo.
A não intervenção nutricional faz com que a criança seletiva leve esse comportamento para fase adulta
“Recebemos muitos adultos no consultório, que relatam não conseguir se relacionar com a comida, isso acontece porque até os 12 anos de idade o cérebro é capaz de aprender, fica mais fácil por conta do neuro desenvolvimento, temos a neuroplasticidade ainda acontecendo, após os 12 anos é desejo, quero fazer uma dieta, usar determinada roupa. Muitos adultos falam que aprenderam a comer na raça, porque as vezes tinham problemas sensoriais na infância que não foram solucionados e não conseguem tolerar alguns alimentos também na fase adulta. Identificam a dificuldade, tomam um suco de laranja, mas não conseguem comer a laranja, admitem que é muito gostoso entender porque não conseguem comer, entendem e querem trabalhar, tratar isso”, relata Carina.
Prevalência da Seletividade é igual em meninos e meninas – “abrir o pacote é o legal”
Na observação de Carina Scapinelli, a seletividade é comum tanto em meninos como em meninas. Por que houve esse aumento da seletividade? Anteriormente, a criança, brincava, corria subia em árvores, se relacionava com a natureza, comia frutas no pé, trabalhava o sensorial, hoje, principalmente no pós-pandemia do Coronavírus, a criança migrou ainda mais para o mundo digital, fica mais dentro de casa sem treinar o sensorial, o legal é comer o que está no pacote, o alimento ultraprocessado. Hoje a terapia ocupacional é piscina de bolinha, tirolesa, então tudo que trabalhávamos brincando, temos que fazer como terapia”.
Para comer usamos oito sentidos, não só o tato, visão, paladar, audição. Usamos o vestibular, o proprioceptivo e o visceral, muitas vezes uma criança que não anda de bicicleta, não pisa na grama, não pisa no solo tem dificuldade, tem transtorno ela não vai comer direito. “No prontuário não vai o cardápio, vai brincar no chão, interagir com a natureza, plantar, é isso que vamos ensinar, começando a ativar porque o que é legal no pacote, às vezes a mãe faz a brincadeira do pacote, coloca a fruta no pacote, para ela perceber que está abrindo o pacote, fazendo barulho. Cadê o valor da natureza, é o pacote, infelizmente é”.
Criança é muito concreta, quando você leva informação e vira verdade, ela começa a levar para casa essa verdade. Ela entendeu o bem ou o mal que o alimento faz. “Precisamos conscientizar muito ainda esses pais, muitas vezes o carrinho do supermercado ainda está muito ultraprocessado”.
Então a escola precisa planejar e introduzir a EAN – Educação Alimentar e Nutricional - para começar a levar esse aprendizado as crianças. Carina desta ainda a importância de o nutricionista envolver os pais no processo, além do gerenciamento, temos o papel do cuidar, do educar e trabalhar na prevenção na escola, trabalhando o alimento como remédio, trabalhando as funções cognitivas e evoluindo no aprendizado.
O novo olhar do Nutricionista frente ao desafio da criança seletiva
“É imperativo que o nutricionista tenha o autocuidado, entender o poder do alimento em seu próprio corpo, porque a gente só transborda na vida de alguém, quando transbordamos na nossa própria vida. Então se ele começar a entender esse processo, terá muito mais poder de persuasão para levar o seu projeto de EAN para a escola, o nutricionista pode sim interferir em muitas coisas, mudar uma série de questões, não só o cognitivo, mas evitar muitos problemas de saúde, ter o propósito de salvar vidas, se encorajar, quebrar paradigma e trabalhar a Educação Alimentar e Nutricional nas primeiras fases da vida, transforma vidas para o presente e futuro”, acrescenta Scapinelli.
Dra. Carina Scapinelli
Nutricionista, pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e Esportiva Funcional, Fitoterapia, Nutrição Ortomolecular com base em nutrigenômica. Especialização em Nutrição Materno Infantil; Atendimento nutricional em consultório próprio (desde 2001); Sócia e Idealizada da empresa Divertimente Recursos de Apoio Educativo; Proprietária do projeto Laboratório dos sabores.
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