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As longas filas para conseguir fazer uma mamografia, que chegam a ser marcadas dez meses depois da solicitação médica, poderão diminuir drasticamente graças a um novo equipamento que começa a ser testado em dois hospitais do Estado de São Paulo que atendem a pacientes do SUS.
O novo aparelho tem como base um conjunto de termocâmaras que abastecem um sistema de Inteligência Artificial. O princípio do aparelho é o mesmo do reconhecimento facial, comparação, em segundos, das informações referentes a um paciente com o banco de dados que armazena os registros de calor de diversos pontos do organismo de pacientes que comprovadamente são portadores de câncer de mama.
A avaliação do metabolismo da mama, busca áreas de anormalidade térmicas ou vasos anormais que geralmente estão presentes no câncer de mama. Em caso de coincidência das medições obtidas de um paciente com as informações armazenadas na IA, o sistema emite um alerta, para que o pré-diagnóstico seja confirmado por mamografia ou biópsia.
Além da grande velocidade com que, sem qualquer contato físico, o equipamento identifica casos suspeitos de câncer, o aparelho não causa o incômodo decorrente da pressão sobre os seios, reclamação de muitas que se submetem à mamografia.
Os pesquisadores da Fundação Instituto Diagnóstico por Imagem – FIDI e da Predikta Tomografia Médica Dignóstica, que trabalham conjuntamente no projeto, estão se valendo da evolução da tecnologia conseguida com fins militares, para desenvolver um sistema para diagnosticar sinais precoces do câncer com um aparelho não invasivo e que sequer toca na pele da paciente.
Mamógrafos insuficientes e mal distribuídos
O novo equipamento tem as termocâmaras montadas num portal ou totem que lembra um detector da presença de metais, lembra o médico Alexandre Aldred, que está à frente do projeto. Em 2021 foram realizadas pelo SUS 1,6 milhão de mamografias na faixa de 50 a 69 anos, total bem aquém da necessidade brasileira.
O problema é tanto a falta de mamógrafos, que são caros, afirma o biólogo Guilherme Ambar, também envolvido no projeto, como sua má distribuição no imenso território brasileiro e a falta de pessoal especializado para operá-los.
A previsão do especialista é que o novo aparelho deverá ter custo de apenas R$ 15.000,00, muito aquém do valor de um mamógrafo digital. A demanda de mamografias é grande e continua crescendo com o envelhecimento da população brasileira, conclui o biólogo, já que o Instituto Nacional do Câncer recomenda uma mamografia a cada dois anos para toda mulher acima de 50 anos.
Redução do custo da termocâmara viabilizou o projeto
A busca de um sistema de diagnóstico pelo calor emitido pelo câncer não é novidade, explica Alexandre Aldred. “Sempre soubemos que quanto mais agressivo o câncer, mais ativo é o metabolismo, gerando mais calor que uma termocâmara pode detectar”.
O problema na década de 1980, quando canadenses tentaram desenvolver o sistema, era econômico, pois a câmara sensível ao calor era cara, custava até 200 mil dólares e isso tornou inviável o projeto, acrescenta.
A Guerra do Iraque e a necessidade de dotar os soldados de visão noturna baseada na captação do calor levou ao avanço tecnológico que barateou as termocâmaras, que hoje custam entre 500 e 1.000 dólares. Assim um portal ou totem para o diagnóstico do câncer de mama pode usar várias câmaras cobrindo toda a área do organismo que interessa.
Para Guilherme Ambar “o uso da Inteligência Artificial no termodiagnóstico hoje está voltado para a mastologia, mas no futuro pode ser até a solução barata e rápida para reumatologia, artrite, artrose, inflamações musculares e tendenites”. A medição do calor é básica na inflamação, e lembra que o termo inflamação vem de inflamar, isto é, pegar fogo, o que não ocorre na inflamação no corpo humano devido à grande presença da água no organismo. Por isso a busca se centra no calor.