Fazia muito tempo que eu não via um presidente, usufruindo das benesses da República Brasileira, precisar de protestos em seu favor. A última vez que se tentou fazer isso, não deu muito certo. Fernando Affonso Collor de Mello conclamou as pessoas a irem para as ruas defenderem o nome dele, com as cores da Nação: verde e amarelo, mas, o que se viu, nas ruas, foi uma grande massa vestindo preto e solicitando que ele deixasse o poder. Saímos com as caras pintadas para pedir o impeachment do cidadão.
Não sou eleitora do Governador de São Paulo, mas devo dizer que o João Dória tem adotado uma agenda republicana e sensata, seguindo a ciência, a medicina e as autoridades de saúde mundiais que estão à frente das orientações em relação à pandemia. Muito diferentes do nosso presidente que parece muito mais estar à serviço dos vendilhões do templo, os líderes religiosos que lucram extorquindo o ser humano.
Com ele sobram apenas aqueles interessados em efetivamente controlar o povo, retirando-lhes todo o espírito crítico que o raciocínio lógico bem desenvolvido pode fomentar, e o que, realmente faz o país crescer e a população se libertar dos desmandos dos políticos que eles tanto reverberam. Junto aos vendilhões, lhe acompanham aqueles tributários das teses de perseguição aos professores, que teoricamente se aproveitam da audiência cativa dos estudantes para “politizar” um espaço em que deveria ser de aprendizado das matérias. Particularmente, entendo que a escola é o local em que se deve aprender cidadania e a boa convivência com os demais, e que não há aprendizado destes temas sem questionamento e olhar para os modelos aplicados, todos desvirtuados pela corrupção dos valores de amor ao próximo, diga-se. Essa tal de tolerância anda em falta no mundo, atualmente.
Ao assistir as inúmeras reportagens e posts da internet em que tratam das manifestações contra o governador paulista vejo que muita gente “cabulou” as aulas de histórias e de lógica básica. Nunca antes neste País, vi tamanha falta de noção. Para defender criticar o que julgam autoritarismo do Governador, algumas pessoas pedem intervenção militar, volta do Ato Institucional de número 5, um dos mais repressivos e que culminou no fim das liberdades individuais e a morte de milhares de pessoas pelo simples fato de não compactuarem com as agruras do Governo de Ocasião, aquele que usava patentes para ser destacar. Não faz o menor sentido.
Nem mesmo o mais pessimista dos brasileiros acreditaria que, em pleno 2020, com toda a modernização teríamos uma Presidência da República acéfala, que não sabe o que fazer com o Poder que Emana do Povo e a Ele deve servir. Faltam ações efetivas. Por mais que estejamos vivendo um momento atípico, por causa do perigo iminente de um ser invisível aos olhos humanos, temos alguém sentado na cadeira errada, sem iniciativa, ausente nas estratégias e, principalmente, mais preocupado com a reeleição do que qualquer outra coisa, e falando apenas e tão somente com a sua bolha irracional constituída pela internet. Ele está só, ancorado apenas em viúvas da ditadura, celerados, malucos e pessoas menos providas de inteligência. Voltando ao Collor, o pedido dele era que não nos deixássemos só. Bolsonaro já está assim. Para que saiamos da pandemia com foco, estratégia e racionalidade, talvez tenhamos que oficializar essa vacância, para que o Brasil possa seguir em frente.
Mariana Lacerda é advogada e Porta-voz estadual da Rede Sustentabilidade