| Por Roney Giah
O sucesso mundial de O Tigre e o Dragão, coprodução da China e Estados Unidos, lançado em 2000 – que custou 17 milhões de dólares e teve um faturamento de 213 milhões (em valores da época) – deixou uma valiosa lição para o país asiático: a propaganda mundial da cultura chinesa por meio do audiovisual era muito mais eficaz se o país utilizasse a parceria e o know-how norte-americano para alavancá-la. Uma outra lição igualmente valiosa foi aprendida pelos norte-americanos: o mercado bilionário chinês não podia ser menosprezado. Embora a guerra comercial China x Estados Unidos esteja, nos dias de hoje, a todo vapor, os países se recusam a inserir as coproduções sino-americanas nessa guerra. E é fácil entender o porquê dessa proteção.
Não é de hoje que filmes internacionais precisam ter edição especial – vulgo censura – para obter o aval da Administração Nacional de Rádio e Televisão Chinesa (SARFT) e entrar no farto mercado chinês, a maior bilheteria de cinema do mundo. Segundo estudo da PricewaterhouseCoopers, os cinemas chineses terão bilheteria de U$ 12.28 bilhões em 2020, comparado com U$ 11.93 bilhões dos Estados Unidos. Mas, a censura não é a única demanda da SARFT. Existe também uma taxa considerável de importação.
A brecha inteligente criada pelo governo chinês nesse sistema é que a taxa de importação é inexistente no caso de uma coprodução na qual a China seja uma das partes. Nesse caso, Estados Unidos teria as portas abertas para a maior bilheteria do mundo com isenção de imposto; em contrapartida, a China teria uma participação igualitária nos lucros em vez de uma taxa pré-fixada via imposto.
E é daí que surge um mercado cada vez mais crescente. Desde a recente aquisição da Legendary Entertainment pelo fundo chinês Dalian Wanda Group por 3,5 bilhões de dólares, passando pela joint-venture sino-americana da DreamWorks Animation – com empresas de investimento chinesas resultando na “Oriental DreamWorks\" – até o acordo entre Alibaba Pictures e a Paramount (onde a primeira é, ao mesmo tempo, investidor e agência de marketing em território chinês), tudo isso resultou em coproduções como: A Grande Muralha, com Matt Damon e direção de Yimou Zhang; Transformers: a Era da extinção, de Michael Bay; Kung Fu Panda 3; Megatubarão, com Jason Statham; O Arranha-Céu, coragem sem limite, com Dwayne \"The Rock\" Johnson; e tantos outros como Mulher Maravilha, Missão Impossível e Pacific Rim: Uprising.
Essa tendência mercadológica, que pode afrouxar a burocracia bizantina chinesa, claramente possibilita o crescimento de ambos os países. O futuro da parceira depende do quanto a guerra comercial do presidente Trump irá escalar e da China priorizar o crescimento econômico acima de sua política protecionista.
Pelo tamanho da lista de lançamentos para 2020 com coprodução sino-americana, tudo indica que ambos países pretendem continuar ampliando a parceria e os bolsos. O mercado audiovisual, cada vez mais sem fronteiras, agradece.
| Roney Giah é diretor e produtor musical, fundador da Doiddo Filmes. Vencedor de 4 Leões de Cannes e 3 Clio Awards, Giah é formado em música pelo MIT de Los Angeles e em Engenharia de som pelo I.A.V. Em sua carreira, produziu trilhas e dirigiu filmes para marcas como Colgate, HSBC, Pringles, Mattel, Zorba, Bank of America, AOC, Lojas Marisa, NET, Nestlé, ASICS, TNT Energy Drink, Kaiser, Telecine, Credit Suisse, TEVA e Merck Sharp & Dhome para agências como WMcCann, Young & Rubicam, Talent Marcel, Havas WW, Hogarth WW, Live e Mullen Lowe Brasil.
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