*Por Fabio Murakami
Considerado um mercado tradicional por muito tempo, o setor financeiro tem quebrado esse estigma atualmente com constantes novidades. Novos players e fintechs têm proporcionado formas inovadoras para facilitar as relações financeiras, estimulando serviços mais convenientes e eficazes para os consumidores.
As instituições de pagamento também têm exercido um papel fundamental nessas mudanças, não somente como provedoras de métodos de pagamento, mas como verdadeiras integradoras de soluções. Um exemplo de suas contribuições é o fato de terem facilitado as contas digitais, possibilitando que esses serviços atendam às necessidades dos usuários.
As contas digitais estão começando a decolar no Brasil e devem evoluir com recursos mais eficientes para os correntistas no futuro. Mas para chegar no ponto atual, o mercado evoluiu em algumas etapas, com serviços que progrediram e outros que não deram tão certo.
Por volta de 2012, empresas começaram a oferecer meios de pagamentos pré-pagos no país, com o objetivo de aumentar a inclusão financeira com serviços de pagamento de contas, transferência de dinheiro, recargas de transporte e celular, geralmente atrelados a um cartão pré-pago. Paralelamente, havia também soluções de cartão pré-pago voltadas para empresas, como cartão governamental, de despesas corporativas e vale presente.
Nesse cenário, os meios de pagamento pré-pagos focados na inclusão financeira acabaram se ofuscando, devido às barreiras que existiam para a entrada e saída de recursos nessas contas. O consumidor pagava tarifas altas para movimentar seu dinheiro, com limites de uso, e muitas vezes precisava se deslocar até um ponto conveniado para recarregar seu cartão.
Enquanto esses serviços não tiveram muita adesão, as soluções de cartões pré-pagos B2B ganharam mercado e se demonstraram simples, eficientes e econômicas para as organizações.
Em um segundo momento, as instituições de pagamento identificaram um potencial em soluções voltadas para o consumidor final, mas por meio de outras empresas, no segmento B2B2C. Essas soluções foram e são capazes de realizar um trabalho de inclusão financeira, uma vez que atendem às necessidades de consumidores que não possuem ou que usam com pouca frequência serviços financeiros. Através desses serviços, colaboradores de uma empresa ou prestadores de serviços em marketplace podem acessar seus salários com mais facilidade e sacar dinheiro rapidamente, por exemplo, duas das ações mais realizadas pelos brasileiros em suas contas correntes, segundo dados de 2014 do Banco Central. Essas operações trouxeram mais escala para as instituições de pagamento e mais aproximação com os usuários finais.
Em abril de 2016, o Conselho Monetário Nacional (CMN) regulamentou a abertura e encerramento de contas bancárias de pessoas físicas por meio eletrônico. Os bancos já ofereciam serviços digitais na época, mas, até então, era preciso comparecer a uma agência com documentos impressos. A norma facilitou o surgimento de contas completamente digitais, abrindo também um potencial para o surgimento de novos serviços. Não só os bancos tradicionais puderam oferecer essas soluções, mas startups e fintechs que já nasceram em um momento de inovação e tecnologia avançada.
As contas digitais ultrapassaram as barreiras de entrada e saída de valores que as contas pré-pagas tinham e marcaram a terceira etapa da evolução do setor. Elas passaram a ganhar espaço com clientes B2C através de soluções como P2P transfer e P2P lending, e esse movimento deve ser potencializado com a iniciativa do Banco Central de interoperabilidade entre contas bancárias e contas de pagamentos de instituições de pagamento.
Os resultados dessa evolução foram serviços com foco em facilidades e usabilidade, consumidores mais conectados, e um aumento da inclusão financeira no país. De acordo com pesquisa da FEBRABAN, o mobile banking foi o meio mais utilizado dos brasileiros para o acesso aos serviços bancários em 2016, com 21,9 bilhões de transações. Além disso, a taxa de bancarização atingiu 90,4% no mesmo período.
A quarta onda dessa evolução ainda está por vir, com um crescimento mais acelerado das contas digitais. Recentemente, o CMN também autorizou a abertura e encerramento de contas digitais por microempreendedores individuais. A tendência é que a usabilidade, economia de custos e praticidade dos serviços digitais tragam mais benefícios aos consumidores e aos negócios do setor.
*Fabio Murakami é Diretor de Produtos e Marketing da HUB Prepaid, grupo líder em meios de pagamento no Brasil e na América do Sul