Muito mais que uma metodologia, a agilidade é uma cultura, uma nova forma de pensar e agir. Por conta disso, não basta somente aplicar um ou outro método ágil para conseguir obter os resultados prometidos, deve-se de fato encarar uma mudança de mindset, incentivar a área e a organização a respirar novos conceitos e quebrar paradigmas.
Por Fábio Jascone*
Antes de mais nada, devemos desmitificar o conceito de que agilidade é somente para a área de desenvolvimento de software. Algumas técnicas realmente fazem mais sentido para este processo, porém, agilidade é uma filosofia, além de somente técnicas.
Apesar do atual Manifesto Ágil direcionar seus valores e princípios para o desenvolvimento de software, é nítida a sua evolução para uma abordagem mais cultural, independentemente da atividade, permitindo a aplicação em praticamente qualquer área da organização, principalmente no RH.
Nossa maior prioridade é satisfazer o cliente, através de entregas de valor adiantadas e contínuas. — Manifesto Ágil
Este talvez seja o princípio mais importante do manifesto e a base para entender a essência da metodologia ágil. Em outras palavras, podemos dizer que Agile significa fazer entregas rápidas e de valor para os clientes.
Hoje em dia vemos muitos conceitos se misturando e fazendo sentido para mais de um método, como é o caso dos três pilares do Scrum — uma das metodologias ágeis mais utilizadas: transparência, inspeção e adaptação.
O Scrum, além dos três pilares, também nos ensina que a aplicação de um método ágil deve se dar de forma empírica, buscando sempre executar, errar, aprender e melhorar a cada ciclo, sem esperar pelo resultado excelente logo no primeiro momento. O importante é conhecer os princípios e iniciar. A excelência virá com a prática.
Outro método muito utilizado e fácil para iniciar é o Kanban, que “combina a quantidade do trabalho em andamento (WIP) com a capacidade da equipe e proporciona um planejamento mais flexível, saída mais rápida, foco mais claro e transparência ao longo do ciclo de entregas”.
Por isso, é importante pesquisar e entender qual é o melhor método para cada área e processo da organização.
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Mas afinal, como técnicas ágeis podem tornar o RH mais produtivo?
Como cito em meu artigo Os mitos que sustentam a ignorância ágil, agilidade não significa somente fazer mais rápido, mas sim evitar o desperdício de fazer mais do que o necessário.
É assim que se torna possível ganhar produtividade em qualquer área da empresa, identificando e eliminando, em cada processo, a redundância de informação e o excesso de burocracia motivado pela falta de confiança.
Além disso, é necessário gerenciar o fluxo e manter uma dinâmica de transparência, inspeção e adaptação a cada ciclo, buscando um processo de melhoria contínua, como orienta o Scrum.
Expondo a Ferida
A maior dificuldade para colocar isso em prática é a pesada rotina do RH, onde todos são consumidos diariamente pela operação e não encontram tempo para respirar, refletir e evoluir. A melhoria contínua é praticamente anulada pelas atividades do dia a dia. E práticas inovadoras ficam dependentes de iniciativas isoladas dos heróis incomodados e inconformados.
Isso cria um problema cíclico, onde não há tempo para melhorar os processos por causa da rotina, que justamente é pesada por não haver um momento de inspeção para identificar os pontos de melhoria e espaço para adaptar o que deve ser feito diferente.
O RH atua para satisfazer as pessoas — seus “clientes”, os gestores e demais colaboradores da empresa. Está constantemente buscando tecnologia para melhor atender suas necessidades, ferramentas inovadoras, com o objetivo de ganhar mais produtividade. Porém, esquece muitas vezes de prestar atenção aos seus processos. Pouco adianta ferramentas atuais com processos antigos e, o pior de tudo, é tentar forçar essa adaptação.
Atualize seus processos, assim como a tecnologia que utiliza, para conseguir aproveitar melhor o tempo e reverter esse trabalho em resultado para a empresa, além de satisfazer as pessoas.
O Novo RH
O Novo RH precisa ter sua atuação cada vez mais focada na estratégia da empresa ao invés de ser somente uma área operacional, responsável pelo cumprimento da legislação trabalhista e afundada em processos.
Além disso, precisa adaptar-se para conduzir a sua própria transformação digital e apoiar as demais áreas, pensar estrategicamente para contribuir com o futuro da organização e em quais competências serão necessárias para atingir esse objetivo. E outro aspecto importante que deve ser considerado é a experiência do colaborador, que se torna cliente da marca e patrocinador das mudanças no processo de evolução do modelo de gestão.
Com base nessa abordagem, que tal criarmos o Manifesto Ágil do RH, para orientar as ações e alinhar o propósito da área?
Para isso, foque em:
Estratégia ao invés de apenas atividades operacionais
Visão longo prazo no lugar de somente tarefas diárias
Transformação digital ao invés de processos manuais
Experiência do colaborador além do apenas cumprimento da legislação
Como dito antes, o Novo RH precisa aproveitar melhor o seu tempo para de fato contribuir com o resultado da empresa, e é aqui que técnicas ágeis podem ajudar.
*Fábio Jascone é coordenador de Sistemas na Senior, empresa referência em tecnologia para gestão no Brasil.